24 abril 2020

Ao anunciar sua demissão do Ministério da Justiça, Sérgio Moro expôs interferências do presidente Jair Bolsonaro

Sérgio Moro, agora ex-ministro da Justiça, expôs interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. (Foto: Gabriela Biló/Estadão)
O ex-juiz Sergio Moro anunciou, em um pronunciamento oficial feito no final da manhã de hoje (24), sua saída do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A saída já havia sido antecipada pela imprensa ontem (23), após o presidente, Jair Bolsonaro, decidir demitir o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, o que acabou se confirmando na edição extra do Diário Oficial da União (DOU) publicada na madrugada de hoje.

A Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), afirmou que a demissão de Valeixo, teria sido à pedido do mesmo, argumento desmentido por Moro, que afirmou que a demissão representa "uma interferência política na Polícia Federal, cujos resultados são imprevisíveis". "Sinto que tenho o dever de proteger a instituição da Polícia Federal e entendi que não podia deixar de lado meu compromisso com o estado de direito. Em nenhum momento o diretor da Polícia Federal apresentou um pedido formal de exoneração".

"Eu não podia aceitar essa demissão. Tenho que preservar a minha biografia, mas tenho que respeitar, acima de tudo, o compromisso que fiz com o próprio presidente, de que seríamos firmes no combate à corrupção", afirmou o ministro.

Moro expôs que perdeu apoio de Bolsonaro, quando o presidente passou a interferir na autonomia da PF, a partir do segundo semestre do ano passado, quando Bolsonaro passou a insistir na demissão de Valeixo da direção-geral da PF. "Sempre tive o apoio do presidente, mas, a partir do segundo semestre do ano passado, passou a haver uma insistência do presidente em trocar o diretor-geral da Polícia Federal".

O ex-ministro afirmou que a interferência de Bolsonaro era uma violação ao acordo de carta branca que o presidente havia prometido ao ex-juiz da Lava Jato, para o mesmo largar a toga e aceitar o Ministério da Justiça. "É uma violação de uma promessa que me foi feita, de que eu teria carta branca (para indicar,) e fica clara a interferência política na Polícia Federal", concluiu Moro.

Ao mencionar os trabalhos da Lava Jato no combate à corrupção, Sérgio Moro acabou elogiando os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) no que diz na manutenção da autonomia da Polícia Federal. 

Sobre ter largado 22 anos de magistratura para assumir o Ministério da Justiça, Moro negou que tenha colocado como condição sua indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) e revelou que seu único pedido envolvia a garantia de uma pensão à sua família em caso de sua morte e que o pedido foi prontamente atendido por Bolsonaro. "A única condição que eu coloquei (quando assumi o cargo) foi que, como eu estava abandonando 22 anos da magistratura, pedi apenas que, já que nós íamos ser firmes contra a criminalidade, que, se algo me acontecesse, pedi que a minha família não ficasse desamparada, sem uma pensão. Foi a única condição que coloquei para assumir o ministério da Justiça", afirmou. 

Antes de encerrar o seu pronunciamento, Sérgio Moro disse ter várias divergências com o presidente Jair Bolsonaro, mas que só falaria sobre o assunto em outra ocasião. "Tive outras divergências com o presidente da República, mas não vou falar sobre elas - fica para outra ocasião", concluiu.

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