Um grupo de três cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) recebeu do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o patenteamento definitivo de uma tecnologia mais eficiente para a obtenção do lítio, componente essencial em várias tecnologias contemporâneas. A carta patente diz respeito especificamente ao processo para obtenção de dois materiais, denominados LPM-18 e LPM-19, que dizem respeito a zeólitas MFI e LTT, respectivamente, como subprodutos da extração do lítio a partir do beta-espodumênio, material rico no minério em sua composição.
Tecnicamente, as LPMs são zeólitas, estruturas que podem ser criadas em laboratório para fins direcionados, visando diferentes usos industriais, medicinais, na agropecuária, de tratamento de água e até de remediação ambiental. Dizer que elas são MFI e LTT é falar da identidade delas. Ao todo são 255 tipos de zeólitas e elas se distinguem quanto a estrutura cristalina e disposição dos elementos Silício e Alumínio nessa estrutura. Leonardo Leandro dos Santos, autor da tese que origina a descoberta científica, pontua que a tecnologia patenteada apresenta vantagens ambientais e oportunidades tecnológicas em diversas indústrias em particular, por o dispositivo patenteado não só facilitar a obtenção de lítio, mas também oferece simultaneamente a produção de zeólitas.
“Como há a ligação com a extração do lítio, diretamente a gente pode usá-la nos processos industriais relativos à fabricação de smartphones, carros elétricos e medicamentos. Mas não só. Como têm diversas utilidades em áreas como catálise, adsorção e troca iônica, isso amplia as possibilidades de utilização em diferentes processos industriais. Por exemplo, na redução da emissão de gases poluentes em escapamentos de veículos e na remoção de corantes de efluentes industriais na indústria têxtil, além de serem eficazes na retenção de sais e compostos de difícil filtração”, explica.
Depositada em 2018, a tecnologia tem também como autores os professores Sibele Berenice Castellã Pergher e Rubens Maribondo do Nascimento. Ambos atuaram na orientação do estudo, uma pesquisa vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPgCEM). O grupo salienta que no processo desenvolvido, não se usa solventes orgânicos, ao contrário dos métodos convencionais. Essa inovação resulta na obtenção de subprodutos em vez dos resíduos prejudiciais gerados pelos processos tradicionais de extração. “Essa combinação de aspectos não apenas promove a sustentabilidade na produção de lítio de modo eficiente, mas também oferece oportunidades tecnológicas e industriais, contribuindo para uma economia mais circular e desenvolvimento sustentável”, frisa Leonardo.
Para os pesquisadores, a relação entre eficiência e sustentabilidade torna o processo singular, garantindo assim seu destaque na pesquisa acadêmica ao sobretudo minimizar resíduos. Eles acrescentam que a patente envolve desde o mapeamento e extração do lítio, até a produção de zeólitas. “A partir da criação de um laboratório para escalonamento da síntese de zeólitas, a intenção é ampliar essa tecnologia, beneficiando a competitividade regional e nacional. O processo também abre oportunidades para formação de recursos humanos e até a criação de uma startup para utilizar essa tecnologia”, identifica o também pró-reitor de Pós-Graduação da UFRN, Rubens Maribondo.
Atualmente, o grupo está trabalhando no primeiro modelo prático, um tanque de reação de cerca de 50 litros, feito de aço inox com revestimento de Teflon. Ele ficará instalado no laboratório de peneiras moleculares (Labpemol/UFRN), mesmo lugar onde os experimentos ocorrem. Além disso, a pesquisa encontra-se no estágio de aprimoramento na síntese hidrometalúrgica do lítio e de novas zeólitas, bem como, há estudo para escalonar a síntese das zeólitas. “O objetivo desses passos é elevar o processo da invenção a níveis tecnológicos (TRLs) elevados, tornando-o viável para uso industrial. Uma das abordagens em estudo é a utilização de processos de cominuição mineral em moinhos para facilitar o aumento da produção em larga escala”, contextualiza Sibele Pergher.
*Por: Wilson Galvão/AGIR/UFRN
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