17 março 2022

Pesquisa da UFRN resulta em patenteamento de produto cosmético

Atualmente, os inventores explicaram que estão prospectando parceria com uma empresa para a transferência da tecnologia. (Foto: Cícero Oliveira/UFRN)

Um novo produto cosmético, a partir de uma inovadora formulação, recebeu, no último dia 3 de março, o patenteamento do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI). A invenção é fruto direto de uma tese desenvolvida no Programa de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e trata-se de um produto sólido, com características de tamanho e forma semelhantes a um comprimido, pensado para aplicação direta na pele. Quando misturado à água forma um gel-creme para aplicação imediata com ação hidratante, com melhoria do aspecto da pele e para prevenção dos sinais do envelhecimento precoce. Por causa dessa sua composição, pode ser utilizado na indústria cosmética e farmacêutica, em humanos e animais. 

As características da nova tecnologia são alcançadas pois a sua formulação conta, em sua essência, com extratos de Prosopis juliflora, a Algaroba, espécie utilizada na alimentação humana na obtenção de produtos como farinhas, xaropes e bebidas, a partir dos frutos, bem como fonte de madeira e alimentação animal. Para o desenvolvimento do produto, o extrato foi obtido do fruto; contudo, as folhas, o caule, a raiz ou a casca também podem ser usadas neste momento, após serem submetidas a qualquer processo de modificação.

“É importante pontuar a facilidade relativa ao uso do produto, pois sendo um núcleo sólido para uso imediato e dose única, ele apresenta maior estabilidade, facilidade de transporte, por exemplo, em viagens internacionais e maior comodidade de aplicação”, identifica Márcio Ferrari, orientador da tese do doutorado e um dos envolvidos nas etapas de desenvolvimento do produto, avaliação de segurança e eficácia. 

O trabalho acadêmico também ganhou reconhecimento nacional e internacional. Um deles foi como o melhor trabalho apresentado no 30º Congresso Brasileiro de Cosmetologia, Associação Brasileira de Cosmetologia, no ano de 2017. Posteriormente, no Prêmio Joaquin Pérez Vilalbal, terminou como o melhor trabalho desenvolvido com matéria-prima latino americana no Congresso Latino Americano e Ibérico de Químicos Cosméticos, no ano de 2019, premiação outorgada pela Federación Latinoamericana de Associaciones de Ciencias Cosmeticas (FELASC).

O autor da tese é Gabriel Azevedo de Brito Damasceno, hoje professor na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ele acrescenta que a elaboração da tecnologia foi pensada, também, para minimizar a possibilidade de contaminação por microrganismos, reduzir o número de ingredientes na formulação, tendência global e facilitar a diminuição dos custos de transporte, ao possibilitar o uso de embalagens do tipo blister ou outras semelhantes por ter menor peso e menor volume que os produtos cosméticos tradicionais.

Gabriel explica que o gênero Prosopis, espécie de onde o extrato vem, está distribuída, preponderantemente, em regiões áridas e semiáridas no mundo. Originária do Peru, chegou ao Brasil para uso como forragem para animais e fonte para extração de madeira. A Algaroba é considerada uma das espécies mais invasoras do mundo, competindo por nutrientes e prejudicando o desenvolvimento de espécies nativas. “Em relação à composição química da planta, foram detectados e isolados, polissacarídeos, alcaloides, flavonoides e compostos fenólicos. Esses componentes possuem possibilidades de diferentes funções, como a de reagir com vários tipos de radicais livres, responsáveis por acelerar o envelhecimento precoce. Por causa desse combate, podem retardar o envelhecimento das células”, coloca o cientista. Ao lado dos dois, completa o grupo de inventores envolvidos na concessão a co-orientadora da pesquisa, Raquel Brandt Giorgani, e a pesquisadora Elissa Arantes Ostrosky.

Na medicina popular, há fartos relatos do uso da algaroba no tratamento da asma e condições respiratórias, condições dermatológicas, problemas gastrintestinais, além de suas ações antimicrobiana e cicatrizante. Corroborar o uso popular permite também o estabelecimento da dosagem correta quanto aos diferentes usos, o que implica em menor incidência de efeitos colaterais, bem como, o uso conjunto com outros estudos científicos a fim de potencializar a composição ou criar alternativas. Sendo a Prosopis juliflora considerada uma espécie invasora, o uso racional dessa espécie, considerando o manejo sustentável, traz benefícios ao meio ambiente e às comunidades regionais.

Sobre o estágio de desenvolvimento da nova tecnologia, Márcio Ferrari relata que já foram realizados testes em todas as etapas da produção de um novo produto cosmético. Segundo o professor do Departamento de Farmácia, além da caracterização química dos extratos da Algaroba e dos estudos de segurança, ocorreu o desenvolvimento do protótipo, o qual teve sua estabilidade avaliada. Inventor e autor da primeira concessão vinculada ao Departamento, no ano de 2020, Ferrari é voz ativa no incentivo ao patenteamento de produtos com potencial para serem absorvidos pelo setor produtivo, a fim de uma melhor qualidade de vida às pessoas.

“O desenvolvimento do projeto do doutorado que culminou, dentre outros, na Carta Patente, é um caminho longo, mas gratificante. Envolveu desde o primeiro momento, na coleta das espécies vegetais, no estabelecimento de parcerias da UFRN com outros laboratórios, pesquisadores e instituições. Foram realizadas parcerias locais, nacionais e até internacionais, focadas no desenvolvimento de recursos humanos, não só em nível de doutorado, mas também dos alunos de iniciação científica que participaram do projeto, como também no desenvolvimento e aplicação de tecnologias voltadas a cosmetologia”, realça.

Ferrari é veloz ao destacar a participação de pessoas dos grupos de pesquisa do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Cosméticos, Laboratório de Avaliação da Segurança e Eficácia e do Grupo de Pesquisa em Produtos Naturais Bioativos (PNBio – UFRN) e a parceria realizada com o Núcleo de Pesquisa em Alimentos e Medicamentos (NUPLAM), unidade da UFRN que colaborou em parte do desenvolvimento tecnológico do núcleo sólido.

Em vídeo, os pesquisadores falaram um pouco mais sobre a invenção, assista clicando aqui.




*Por: Wilson Galvão - AGIR/UFRN

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